Uma breve história do Motion Graphics
Da tela de cinema à tela de celular
O Motion Graphics é um campo em crescimento progressivo dentro do Design que, com o passar dos anos, se destacou em diferentes tipos de mídia. Tendo suas raízes no cinema e na televisão, atingiu também os meios digitais, graças ao advento da computação gráfica e da internet. Sua trajetória em diferentes formatos, hoje, o definem como uma linguagem autônoma e projetualmente híbrida. São estas características que evidenciam o seu potencial em novos canais.
É comum encontrar definições que reduzam seu significado somente à parte técnica, deixando de lado seu potencial como linguagem. O pesquisador brasileiro João Velho sugere a definição de motion graphics como:
uma área de criação que permite combinar e manipular livremente no espaço-tempo camadas de imagens de todo o tipo (vídeo, fotografias, grafismos e animações), temporalizadas ou não, juntamente com música, ruídos e efeitos sonoros.
A partir dessa definição, compreendemos que o motion graphics engloba a parte técnica, ao referenciar a aplicação de tecnologias em computação gráfica, e também conceitual, ao indicar como uma área de criação de projeto gráfico.
Contexto histórico do motions graphics
Nos anos 1950, as aberturas de filmes, que até então tinham como função apenas informar o título do filme e a equipe técnica, foram revolucionadas com as criações de Saul Bass. O designer e cineasta fez da abertura do filme “Vertigo” (1958) parte do projeto gráfico, permitindo ambientar a história desde os primeiros frames do filme. É neste contexto que o motion graphics surge com a intenção de integrar a linguagem tradicional do design gráfico com a linguagem dinâmica do cinema.
Nesta época, os resultados se aproximavam das colagens e fotomontagens, com a diferença de estarem em movimento. Para isto, eram utilizadas técnicas de animação e trucagem por meio de películas que possibilitavam adicionar elementos bidimensionais animados, como a tipografia ou imagem real em movimento.
Outro destaque é a abertura do filme “A pantera cor-de-rosa” (1963), de Blake Edwards. O animador Friz Freleng fez o uso de letras que se moviam, textos embaralhados e até criou um personagem que interagia com os títulos, que acabou virando um ícone da cultura pop, aparecendo em sequências do filme e em sua própria série de televisão.
Nos anos 1980, marcado por grandes inovações tecnológicas, a área de computação gráfica se destacou. O surgimento de ferramentas para a modelagem e animação 3D avançadas permitiram novas possibilidades, como a animação de logotipos, marcas e objetos. Ao fazer a animação em 3D da logo da ABC (rede de TV americana), Harry Marks impulsionou o motion graphics no broadcast design (área do design gráfico focado em canais de televisão). Logo, diversas redes de televisão, como a Globo no Brasil, aderiram identidades visuais com volume no espaço tridimensional.
Esta época também marca a chegada do motion graphics nos videoclipes, que começaram a associar a música e suas batidas com a edição e montagem de vídeos, imagens, textos e demais elementos gráficos.
O início dos anos 1990 marca a chegada dos softwares para composição e manipulação de imagem em movimento. Assim, tornou-se possível animar livremente textos, imagens, vídeos e objetos tridimensionais. Softwares como Adobe Premiere e Adobe After Effects, lançados em 1991 e 1992, respectivamente, são utilizados até hoje para a produção/edição de clipes, curtas, séries, filmes, e etc. Um de seus grandes diferenciais, é o fato de ser acessível para grandes empresas, pequenos estúdios e até mesmo designers autônomos. A cada versão lançada, novas possibilidades de compor e manipular são agregadas, o que resulta em um avanço exponencial nas possibilidades de criação.
O advento da internet nos anos 2000 também abriu novos caminhos, como a divulgação de produções autorais em sites para compartilhamento de vídeos, como o Youtube. Nestes sites, além de vídeos simples e caseiros, encontra-se também uma produção mais elaborada (amadora ou profissional) de curtas, videoclipes, séries e animações. O canal de Youtube “Kurzgesagt — In a Nutshell” , por exemplo, publica vídeos que usam apenas do motion graphics para ensinar ciência de um modo mais fácil e atraente.
Atualmente, o motion graphics não se limita apenas a vídeos, estando presente também em websites, aplicativos e sistemas operacionais. Incorporar o motion graphics em interfaces digitais pode aumentar a interatividade e melhorar a experiência de uso, já que elementos que poderiam ser ignorados agora são realçados pelo movimento. Esta é uma prática que a Google aplica desde 2014, ao introduzir o Material Design — seu guia de especificações para desenvolvimento de interfaces, o qual contempla o motion graphics como um de seus princípios.
Desta forma, diferente de um “trocar de telas”, ao interagir com um elemento elaborado com movimento, as ações ocorrem em um único ambiente, sem quebrar a continuidade da experiência. Ou seja, na tela do celular, os movimentos são coreografados para que a pessoa que esteja utilizando seja o protagonista deste momento.
Fatores como a inovação tecnológica, softwares acessíveis e espaço para distribuição que consolidaram o motion graphics como uma linguagem híbrida e original, seja no entretenimento do cinema, da televisão e da internet e, até mesmo, dançando na palma de nossas mãos.
Este texto foi extraído e adaptado do meu projeto de conclusão de curso em Design Gráfico.
Referências
Google Design. The Material Design Guidelines. 2014
Isabel Xavier Freire e Washington Dias Lessa. Balizamento conceitual do motion graphic design. 2016
João Velho. Motion Graphics: linguagem e tecnologia — Anotações para uma metodologia de análise. 2008
Jon Krasner. Motion Graphic Design and Fine Art Animation: Principles and Practice. 2013
Marina Yalanska. Animated Interactions. Motion on Purpose. 2017